Direto dos anos 90: cargo de Especialista
"Mágica ainda é mágica mesmo se você souber como é feita" - Terry Prachett
Mais uma vez, durante as minhas aventuras diárias e tentativas fracassadas de acompanhar todas as threads de todos os fóruns que sigo e de tentar ler todos os textos que marco nos favoritos para leitura, me deparei com aquelas leituras interessantes, um tanto quanto "clichêzadas" e com algumas dicas meio óbvias dependendo do seu ponto de vista. Basicamente um Sênior da área de tecnologia escreveu vários "bullet points" enquanto estava bêbado, sobre coisas que ele aprendeu estando naquela posição (e claro, conhecimentos que ele formulou durante toda a carreira).
Não foi o primeiro do gênero, já encontrei outros textos em blog com dicas para marinheiros de primeira viagem ou jovens que adoram gastar suas energias em complexidades e projeções de carreira meio irreais, inclusive eu gosto bastante da galera do boringtechnology.club porque eles ajudam na disseminação de práticas que vão facilitar sua vida. Eu gosto muito de conversar com pessoas mais experientes no mercado ou na academia, pois eles possuem os "bizus", os manuais, as dicas para pessoas menos experientes (sim, eu sei que estou sendo redundante e todos sabemos disso). Em alguns lugares que trabalhei, existia o cargo de "Especialista", a premissa é de algo bem maneiro, respeitado, a pessoa que resolve todos os problemas quando chamada, porém, não é bem assim na maioria das vezes. Um especialista vem após um Sênior, que vem depois de um pleno, que sucede o Júnior. Talvez o júnior saiba mais de um assunto em específico do que o especialista, e não tem problema, pois é impossível conhecer tudo (infelizmente).
Vamos tentar eliminar os contrapontos ao meu argumento inicial. Se estamos falando de uma área de negócios, é bem provável que o especialista seja responsável por um ou dois projetos? Sim, porém estes projetos têm fim, o que sobre é o "knowhow" e o aprendizado adquirido. O que fazer com o especialista? Rebaixá-lo(a) de cargo? Não, é injusto, o(a) profissional trabalhou duro demais para conseguir aqui (sendo ingênuo que não exista malandragem no mundo corporativo). Talvez esse termo seja mais adequado para caracterizar uma pessoa, e seu talento individual, do tipo: "Cristina Casagrande é uma especialista em Tolkien". Não é um cargo que ela ocupa, mas sim alguém que conhece muito sobre um assunto, e isso não influencia a possibilidade de ela ter uma "patente" alta ou baixa no mercado de trabalho, ou na academia (talvez na academia sim, pois aqui realmente o indivíduo foca suas atenções para temas específicos a medida que avança no seu aprendizado). No mercado isso é bem complicado e mais raro, talvez os profissionais voltados para CRM's, BPM's e ferramentas de "prateleira" para o corporativismo, e nesse ponto faz realmente sentido, pois dizemos ser bem difícil para alguém que trabalha há 5 anos com SAP, mudar totalmente de carreira para ser um(a) desenvolvedor(a) front-end em uma startup, ganhando o mesmo salário (ou maior). Para aqueles que não conhecem, esse categoria de trabalho mais operacional é bem limitador na questão de expansão de quantidade de informação variada na vida profissional, mas isso não impede o estudo de outras áreas, técnicas, tecnologias em paralelo.
Mais especificamente, um especialista de um time de back-end, não é de fato um especialista em todos os aspectos daquela área, mesmo que possamos limitar apenas na ferramenta usada pelo time, sempre tem algo a mais para aprender, e nem sempre a solução de um problema está naquele meio, muitas vezes é necessário olhar para fora daquele escopo para encontrar um novo caminho. Por isso algumas empresas gostam de fugir dessa nomenclatura, principalmente em consultorias, esse cargo é perigoso. Muitos lugares usam "Distinguished", "Principal", "Tech Lead", o que funciona bem melhor, dependendo do propósito daquela equipe e dos valores da empresa (não vou me estender nesse ponto, pois não gosto de entrar em detalhes de cultura e objetivos de um local de trabalho). Infelizmente, ser especialista em algo depende muito mais do tempo de carreira do indivíduo, do que de sua capacidade intelectual (99% das vezes, pois existem especialistas jovens). Recentemente no twitter, vi algumas discussões sobre a pessoa programadora se tornar sênior com 2 anos. Isso não é problema nenhum, pois a senioridade de alguém está atrelada a muito mais pontos do que só "tempo de carreira". Um sênior é também uma questão de postura, grande capacidade de colaboração, e muitas outras qualidades que nem sempre um sênior de 10 anos vai ter (por já estar um pouco fadigado com o dia a dia, todos os problemas, depende muito do ambiente). No fim, se prender a categoria dos cargos é algo banal (tirando claro pelo salário), pois já vi pessoas com várias certificações, anos de experiência, tendo um desempenho inferior ao de alguém mais novo na área.
Tome muito cuidado em se dizer especialista de algo, muitas pessoas acabam sendo traídas pelo conhecimento, e quando se deparam com uma nova quantidade monstruosa de informação, se sentem traídas pela própria mente, e isso acaba frustrando muitos profissionais, causando síndrome do impostor, por exemplo. No fim, o mais importante é continuar investindo na sua própria educação, ainda mais possuindo toda a capacidade de saber o que, como e onde pesquisar, podendo assim ter uma carreira diagonal (não sei se esse termo existe, mas, estou me referindo a uma carreira escalável podendo mudar de área). No fim, são muitos os fatores que influenciam a carreira de alguém, talento, esforço, sorte, local e momento exatos, então mais uma vez, não acredite nos textos motivacionais do LinkedIn.