5G - o novo agente da teoria da conspiração
"A educação é como qualquer pessoa, principalmente imigrantes, ou um filho de lavradores no sul ou qualquer um com um uma vida modesta, pode ter sucesso em nossa sociedade" - Andrew Viterbi, Criador do algoritmo de Viterbi e co-fundador da Qualcomm.
Por alguns momentos nos últimos anos, fui surpreendido ao escutar várias pessoas demonstrando um certo receio com uma nova tecnologia que apresenta "somente" uma evolução na nossa infraestrutura de comunicação e transporte de informação. Já até escutei que o 5G era a tecnologia do apocalipse. Meu próprio pai me perguntou o que eu achava do 5G, com aquele tom de medo de algo desconhecido. Nós, seres humanos somos assim, qualquer coisa diferente nos gera medo, foi assim com barcos, energia elétrica, aviões, foguetes. Quantas vezes na história alguma descoberta não foi atrasada ou "demonizada" por medo da sociedade que não a compreendia. Mas, o que mais me supreende é que a ideia por trás do 5G não é algo desconhecido, muito pelo contrário, já estamos "acostumados" em nos comunicar usando equipamentos e redes móveis já tem um certo tempo. Atualmente existem mais de 15 bilhões de smartphones no mundo, sendo um dos principais meios de acesso a tecnologias digitais existentes, então, por que do nada vários conspiradores começaram a espalhar que o 5G será um problema para os seres humanos? Eu geralmente não dou bola pra fake news e pseudociência, mas como engenheiro de informação, que sofreu pra aprender métodos de modulação de banda, acesso na frequência por divisão (tipo TDMA, CDMA...), acho que preciso fazer minha parte e explicar um pouco desse "monstro do fim do mundo".
Neste último fim de semana assisti o filme da história da Marie Curie, chamado "Radioactive". Foi creditado a ela e seu marido, a criação de uma área da ciência chamada "radioatividade", graças a principalmente a descoberta de 2 elementos, o Rádio e o Polônio. Uma das coisas que me chamou a atenção no filme, foi como a sociedade da época se aproveitou do termo criado pela ciência para construir vários produtos e criar falácias sobre este assunto, mostrando que pseudociência sempre andou lado a lado com os avanços da ciência. Mas, vamos ao assunto principal, e para isso é necessário entender a nomeclatura, de onde vem a cunha do termo 3G, 4G, 5G.
A telefonia móvel de primeira geração (1G), se limitava a comunicação via voz, somente, também apresentando muitas falhas de segurança, e variação na qualidade da ligação por conta da interferência, suportando poucos usuários simultaneamente, com canal de comunicação curto. Vale lembrar que a letra G representa uma união de protocolos e não necessariamente um nome de tecnologia em si, é fácil confundir pois trabalhamos com frequência, então algumas pessoas acham que é 1Mhz (1 Mega Hertz). o 2G já apresentou mudanças significativas, lá na década de 90, proporcionando maior número de usuários se comunicando ao mesmo tempo, envio de SMS, transmissão de dados entre fax e modem, entre outros. o 3G foi o momento em que as coisas começaram a ficar melhores pro usuário, já que a internet móvel começou a ficar cada vez mais popular nessa época, incorporando vídeo-chamadas, e proporcionando uma velocidade bem considerável para a banda larga. Isso tudo foi possível por conta de novos protocolos utilizados nos espectros de frequência, melhores algoritmos para compressão e codificação da informação, e assuntos mais técnicos que posso abordar em um novo texto. o 4G, basicamente o momento em que grande parte da população com acesso a internet vive, nos proporciona velocidades entre 100 Mpbs e 1Gpbs. Na época do 3G, usar o pacote de dados da sua operadora para ver vídeos no youtube era horrível, péssimo custo benefício, com os pacotes providos graças aos protocolos do 4G, isso mudou pra sempre a vida das pessoas.
Eis que chegamos ao 5G, prometendo usar as bandas de 5Mhz até 100Mhz (lembrando que o 4G usa de 5Mhz até 20Mhz), ou seja utilizando um espectro maior da frequência para incorporar mais serviços simultâneos, e tecnicamente, os provedores vão ter a liberdade ou a obrigação de instalar antenas EHF, para criar comunicação ponto a ponto, e como essas frequências não conseguem ultrapassar as paredes, deverão ser instaladas a nível do chão. A ideia é que assim, a latência será menor, e na teoria a velocidade máxima da rede poderia ser dobrada. No geral, para usuários comuns isso não vai mudar muita coisa. O que temos hoje para acessar sites de notícias, redes sociais, é mais do que suficiente, e por sinal, no modelo brasileiro de banda larga, essas pessoas acabam pagando pelo uso da banda de outros (gamers, pessoas que trabalham com tecnologia em geral).
Agora que temos o contexto, vamos entender toda a conspiração por trás dessa tecnologia. Primeiramente, a radiação maléfica para o ser humano é a radiação ionizante, que são aquelas que possuem capacidade de retirar os elétrons das órbitas dos átomos. Esse tipo de radiação pode causar câncer. As não-ionizantes podem movimentar moléculas usando seus campos eletromagnéticos, o microondas por exemplo afetam os dipolos das moléculas de água, aquecendo-a, mas não as modificando quimicamente, os raios UV também são não-ionizantes em um certo nível. Sim, a radiação de ondas eletromagnéticas nos fazem sentir calor, mas essa energia não é o suficiente para afetar nosso organismo a longo prazo, e na potência utilizada principalmente (diferentemente do microondas). Efeitos nocivos aconteceriam ao mesmo tempo que teríamos uma parada cardíaca por conta dessa radiação, então essa é uma principal razão para não termos medo de problemas a longo prazo, diferentemente de raios UV, que podem causar câncer de pele (que afeta 1 em cada 5 pessoas só nos EUA).
Algo semelhante aconteceu em 1903, quando um grupo de rádiofóbicos, pois sistemas sem fio parecia algo não natural e extremamente bizarro, espalhando medo por muitos locais nos Estados Unidos. Recentemente foi dito que os testes com o 5G estavam relacionados com o coronavírus (https://www.bbc.co.uk/news/uk-england-52164358). Surgiram vários artigos dizendo que radiação eletromagnética pode ser cancerígena, porém, um novo estudo sumarizou todos estes (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6805477/), para mostrar a falta de embasamento. O ponto é que a energia envolvida nas torres de comunicação não é o suficiente para prejudicar a saúde humana. Além de alguns lugares na Inglaterra e Suiça, o estado de Santa Catarina também possui políticos céticos quanto a essa tecnologia, graças ao problema da ciência política e como ela movimenta as massas. O 5G tem sim problemas, como por exemplo perturbar as comunicações de satélites de baixa órbita, além de alguns problemas de segurança de dados, que estão sendo trabalhados.